sábado, 28 de dezembro de 2013

...DEVO CANTAR...

Embora tudo esteja tão escuro.
Embora tudo esteja tão frio.
Embora o sorriso seja um disfarce e o vento sopre na direção contrária.
Sinto que estou feliz.

Embora não haja motivos pra sorrir.
Embora não haja o que temer.
Embora o tempo feche de repente e o verde dê lugar ao marrom,
Do marrom surge um novo verde.

Então sinto que devo cantar.

Cantar a esperança que brota
De uma desesperada carga de ansiedade
Que não demora a trilhar o rumo da paz.

Cantar o sonho tido desde menino
Que a cada dia que passa
Começa a ter cada vez mais sentido.

Embora as forças cedam ao cansaço.
Embora as águas do rio encontrem outro curso.
Embora a canção esteja enjoada e a melodia a inflamar os ouvidos dos vizinhos.
Sinto que é tempo de sorrir.

Embora exista a solidão.
Embora os peixes escapem das redes.
Embora o silêncio seja assombroso e o barulho aborrecedor.
Nada como uma conversa amiga.

Então sinto que devo cantar.

Cantar como se não houvesse outra coisa no mundo
Que fosse pior ou mesmo melhor
Que brindar os campos férteis da imaginação.

Cantar com os pássaros que voam
E que mentalmente pousam
Para admirar o som do coração.

A vida passa e repassa.
Os sonhos vivem e morrem.
Os esqueletos ficam novamente em pé.
E a canção se torna mais sincera.

CLEITOM SOARES DE MELO

domingo, 8 de dezembro de 2013

...HÁ UMA RAZÃO...

Há uma razão em toda mentira contada,
Inventada pelos mistérios mais profundos do coração,
Contada pelos lábios mais seguros de quem ama,
Sentida, como se sente uma flecha que transpassa o peito firme do mais valente guerreiro.

Há uma razão em todo sentimento que germina graças a esperanças inúteis:
Um dia uma flor pode brotar e assim transmitir o mistério da vida.
Ou então, simplesmente, pode ser que seja arrancada pela raiz,
Vetando assim o seu âmago existencial.

Há uma razão também para arrancar a flor que brota em meio a esperanças inúteis:
Pode ser que não seja tempo de primavera;
Pode ser que o campo não seja exatamente fértil;
Pode ser que não se possua no cerne de seu coração uma recíproca, sustentada pelo verde da verdadeira esperança.

Há uma razão para que se escreva,
O que não quer dizer que seja para se entender;
O que não quer dizer que seja sobre o empirismo de uma vida dilatada pela máxima expressão de melancolia;
O que quer dizer: escrevo, pois tenho amor às linhas aqui preenchidas.
                                                  
Há uma razão para a música,
Para o choro incessante de quem ouve o belíssimo congraçamento entre a voz e o toque do instrumento:
A voz que canta as mais belas palavras que representa a dor ou mesmo a alegria;
O instrumento que torna doce ou mesmo terrível, cada fase vivida.

Há uma razão para dizer que não há razão:
Talvez se trate de um estúpido orgulhoso que no fundo sabe decifrar cada sentimento de verdade;
Talvez não se queira interferir na liberdade de escolher o que de fato é a verdadeiramente bom;
Talvez se queira que a ferida seja cicatrizada de maneira que não seja novamente aberta.

Há uma razão para que se sinta ciúmes.
Há uma razão para que se sinta feliz.
Há uma razão para chorar desesperadamente.
Há uma razão para rir demasiadamente.

Há uma razão...
Sempre há uma razão...

CLEITOM SOARES DE MELO

quarta-feira, 10 de abril de 2013

...LEIA E SINTA...


Leia este escrito
Mesmo sem entender seu conteúdo,
Mesmo que as profundas palavras nele contidas
Não signifiquem nada para ti.

Leia este escrito
Como uma carta velha de um velho amigo,
Que revela segredos íntimos,
Que revela saudades aos olhos em lágrimas.

Leia este escrito
Como uma cigana lê a mão de um alguém qualquer,
Tentando desvendar um futuro,
Talvez uma consequência de um passado.

Já não sei se há sentido
Expressar os sentimentos contidos
Muitas vezes incompreendidos
Que batem com o coração.

Nem mesmo eu depois de tudo,
Consigo entender a brincadeira de roda
Que a vida insiste em fazer
Com as amarguras.

E a palavra correta a ser usada compreende-se em talvez,
Pois a incerteza cede lugar a tristeza
De nunca encontrar diante do espelho
A imagem coerente do que se construiu.

Mas ao contrário,
Encontrar destroços de um mal feito
Por tantos erros
Que se perdem no caminho.

Ora, seja o pessimismo a tomar conta do meu ser,
Ou seja, então, a esperança que desponta
De um modo falho de dizer
O que as ações já disseram uma vez.

Que despedacem o coração.
Que aborreçam a cabeça ocupada.
Que desfaleça o corajoso.
Mas um dia, que brote a rosa dourada.

Que brilhe a luz,
De uma estrela que guia para a salvação.
E que ao encontrar, tão grande mistério
Possamos presenteá-lo em adoração.

E que o esplendor de uma tempestade
Que anuncia uma injustiça cometida,
Seja o anuncio do esplendor do orvalho
Que anuncia para sempre a vida.

No dia, o dia.
No erro, o erro.
Na esperança, a misericórdia.
Na morte, a vida.

CLEITOM SOARES DE MELO

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

...COTIDIANO...


Todos os dias
Mentiras são ditas em algum lugar qualquer.
Mentiras que ferem,
Como flechas dos guerreiros medievais
Que partem em guerra
Para defender o seu povo.

Todos os dias
Verdades são expressas faça o bem ou faça o mal.
Mas elas também machucam,
Como afiadas espadas
Que perfuram o coração valente
Do cavaleiro sonhador.

Senhoras e senhores,
Meninos e meninas:
O espetáculo já começou.
Senhoras e senhores,
Meninos e meninas:
Não se acomodem, logo é hora de ir embora.

Todos os dias
Por mais difíceis que sejam
A viúva chora a morte do marido.
E esta dor é um vaso vazio e furado
Que por mais que se tente preencher
Sempre ficará vazio.

Todos os dias
Num jardim qualquer
Um jardineiro conversa com uma flor.
Pode parecer loucura
Mas esta é capaz de entendê-lo
Melhor que qualquer homem no mundo.

Senhoras e senhores,
Meninos e meninas:
Venham, tomem os seus lugares.
Senhoras e senhores,
Meninos e meninas:
A viagem pode ser longa, mas não cansativa.

Todos os dias
Numa casa rica ou pobre
Uma mãe cuida do seu bebê.
E olha com esperança para o seu filhinho,
Pensando em diversas carreiras
Que ele poderá seguir quando crescer.

Todos os dias
No fim da tarde
Um melancólico para, para observar o pôr do sol.
E às vezes chora.
E às vezes ri.
E às vezes sente falta de uma companhia amada.

Senhoras e senhores,
Meninos e meninas:
O tempo é para quem sabe viver.
Senhoras e senhores,
Meninos e meninas:
O tempo é para quem sabe amar.

Enfim todos os dias
Em algum canto do mundo
O telefone toca e um padre atende.
Ele pega os paramentos roxos,
Corre até velório e faz as exéquias.
Mas o espetáculo precisa continuar...

Cleitom Soares de Melo

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

...PARA RECORDAR...

O tempo passa e leva
As recordações para longe.
Mas estas insistem em retornar
Oferecendo dor ou mesmo alegria.

E assim é com o cheiro.
E assim é com a cor.
E assim é com a melancólica melodia do piano,
Que faz uma lágrima cair num oceano de solidão.

E quem um dia poderá indagar
Sobre o motivo do suspiro
Da noiva apaixonada
Que foi abandonada no altar?

E quem um dia poderá rejeitar
A hipótese de que o cordeiro
Pode ser somente a aparência
De um lobo feroz?

O tempo passa e traz com ele
Perguntas difíceis a serem respondidas.
Questões complexas a serem refletidas.
E às vezes o medo de fazer o que deve ser feito.

E assim é com a política.
E assim é com o meio ambiente.
E assim é com todos os erros causados no passado,
Que fazem com que se perca o sono.

E quem poderá repreender
A bela jovem que se rebela
Ao ver os sonhos destruídos
Pela falta de oportunidades?

E quem poderá julgar
A vida errante do passageiro
Sendo que o caminho que irá trilhar
É tão incerto quanto a existência dos alienígenas de Marte?

É a magia do inverno
Que determina com rigidez
Como serão as flores da primavera.
Como será o raiar do Sol no verão.

Cleitom Soares de Melo

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