Existem verdades, muitos tipos de
verdades. Verdades que não dizem respeito propriamente à realidade, mas que são
feitas de mentiras, de ações que envergonham. Verdades que são sufocadas pelos
terríveis medos. Verdades íntimas e até mesmo cruéis: incapazes de valorizar um
sonho, um sentimento.
Quando crianças somos cercados de
histórias onde existem apenas dois caminhos a serem trilhados: o bem ou o mal;
a luz ou as trevas; a benção ou a maldição. Em suma, no belo mundo da nossa
extensa imaginação e criatividade sempre há o mocinho ou a mocinha que
enfrentam uma terrível ameaça e que conseguem, apesar de todo o tipo de
sofrimento que experimentam, atingir a plenitude da felicidade sem se mancharem
com a corrupção, com a maldade. É assim com a Branca de Neve. É assim com a
Cinderela. É assim com a Rapunzel. E é assim também conosco.
O fato é que a nossa vida inteira
procuramos algo que está fora de nós para apontarmos como sendo o mal, o ruim.
Confrontamos os mais diversos tipos de problemas. Caímos. Somos decepcionados.
Nos isolamos. E o pior de tudo: nos iludimos. Criamos expectativas que lá no
fundo enganam apenas a nós, mas que tem o objetivo de enganar aos outros
também. Quem nunca parou em situações de desespero e desamparo para procurar a
quem culpar? Sempre precisamos de um culpado! Qualquer um, menos nós mesmos.
E mais tarde, quando atingimos
uma certa idade onde o amadurecimento vem, chegamos à conclusão de que na
realidade, aquilo que aprendemos com as histórias infantis à respeito do bem e
do mal, das bruxa e das fadas, dos heróis e dos vilões não é necessariamente um
contexto social, comunitário, simplesmente porque ele o é também um contexto
interior. Sim, bem e mal dentro de cada um de nós.
Quem nega isso, enxerga-se como a
supremacia da justiça ou como a vítima imaculada. Não toma conhecimento de que
o maior mal possível só acontece por intermédio próprio, por escolha própria.
Não enfrenta a verdade que só é possível ao bater no peito e declarar: “mea
culpa”.
É, em diversas situações da vida
desejamos ter alguém por trás das nossas escolhas, não porque vamos deixar de
sofrer ao sermos decepcionados pelas pessoas, mas porque a dor de ser
decepcionado por quem quer que seja é bem menor que a dor de sermos
decepcionados por nós mesmos.
E para seguir em frente? Perdão é
sempre a resposta. Perdão ao amigo. Perdão aos familiares. Perdão ao
desconhecido. Perdão que não é possível sem termos perdoado a nós mesmos
primeiro.
CLEITOM SOARES DE MELO
XIX MAIVS MMXV
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